O Parque
A área que o antigo proprietário ironicamente chamou O Parque - demasiado modesta para ser um arboreto - ocupa uma área bastante plana no centro da propriedade, que é atravessada pela estrada e por vários caminhos. Antigamente cultivada, foi plantada com árvores e arbustos não autóctones pelo antigo proprietário, que durante toda a sua vida se ocupou de planeamento regional e amavelmente nos deixou as memórias deste seu projecto ambiental e paisagístico. Nas suas palavras,
"Um dos objectivos da criação do Parque foi permitir a fruição de arbustos e árvores de interesse e desenvolver um arboreto; criar, ainda, um abrigo contra o vento, as frequentes nortadas e também os ventos de nordeste e leste que são menos frequentes, mas frios; fornecer, em última análise, uma área sombreada para caminhar...
A selecção foi limitada por alguns factores ambientais, como a necessidade de excluir espécies suscetíveis à geada, aquelas que preferem solos alcalinos e as que gostam de ambientes húmidos; evitando plantas indígenas da região, para as quais foram reservadas outras zonas, secas e húmidas; pela disponibilidade dos viveiros em Portugal (algumas espécies foram trazidas de Inglaterra).... e pelo próprio conhecimento em matéria...
Um grupo inclui espécies indígenas do Mediterrâneo, estendendo-se à Ásia Menor, ao Cáucaso e ao Irão. Um segundo grupo consiste em espécies indígenas de outras partes do mundo com um clima mediterrânico. Um terceiro grupo contém árvores e arbustos de outros lugares (principalmente da Europa Atlântica não mediterrânica, do Leste Asiático, do sudeste dos Estados Unidos e da América Central) que são comuns em Portugal e nalguns casos até foram naturalizados. Um quarto grupo inclui várias outras espécies, não incluídas nos grupos anteriores.
As árvores maiores foram plantadas individualmente ou em grupos de três. Árvores de folha perene foram plantadas em zonas mais distantes dos caminhos: nalguns casos agrupadas em pequenos grupos, para criar um contraponto às árvores de folha caduca localizadas perto dos caminhos. Foi dado espaço suficiente para permitir o crescimento irrestrito e a poda foi limitada à remoção de ramos secos.
Os arbustos estão agrupados em grupos de três ou cinco para criar blocos próximos dos caminhos ou entre as árvores. Para além de algumas tentativas em colocar formas e cores de folhas contrastantes perto umas das outras, não houve ordem na plantação. As árvores foram plantadas muito jovens, muitas vezes tinham menos de um metro de altura. Estas e os arbustos foram regados regularmente durante todo o verão nos primeiros 3 anos; os de habitats mais secos receberam menos água nos anos seguintes, embora pelo menos duas vezes, para simular as épocas de chuvas de maio e setembro. A água foi fornecida por uma rede de mangueiras e bombeada a partir do tanque principal a cerca de 250-400 metros. Algumas destas árvores têm agora mais de 20 metros de altura.
Gramíneas e flores silvestres podem crescer desimpedidas de fevereiro até ao início de junho, e depois são cortadas com roçadoras, de forma a permitir largar a semente e evitar que ao secar se tornem um risco de incêndio. O feno foi muitas vezes varrido para perto das ‘caldeiras’ de irrigação para formar uma cobertura morta e acumular material orgânico, muito carente nesta área após a cultivação de cereais."
Mais de 20 anos mais tarde, árvores e arbustos tinham crescido de forma desmedida, cruzando e sobrepondo-se com o mato espontâneo, tornando o arvoredo cada vez mais fechado. Quantas árvores deitadas encontrámos à procura da luz! Sementes transportadas pelo vento e pelos pássaros fizeram nascer muito mais árvores do que foram plantadas com base no projecto original. Quantas árvores podemos ainda encontrar num metro quadrado apenas!
Além de remover ramos secos, o nosso trabalho hoje em dia consiste assim em grande parte em seleccionar espécies, para que as mais significativas tenham espaço para se desenvolver, numa procura constante por um equilíbrio paisagístico e mantendo a tão importante biodiversidade.